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sexta-feira, abril 25, 2014

O abraço do esquecimento

Não sei dizer exatamente quando ele decidiu te acompanhar mais de perto. As vezes quando me ponho a pensar sinto que já faz um certo tempo, mas nós não percebemos. Ainda não compreendo porque ele decidiu vir para ficar, não poderia ser só mais uma visita? Para ser sincera, acho que talvez nunca entenda. 

É tão difícil ver ele se fazendo presente cada vez mais em sua vida. Você sofre? Essa é minha maior preocupação... Sabe a pior parte? Não posso fazer nada para que ele vá embora. Quanta impotência sinto.

Mas sabe, pai, de agora em diante, toda vez que ele se fizer mais presente em seus dias eu também me farei. Eu sei que será uma luta desigual, ele te envolve progressivamente e inevitavelmente. Mas isso não me desanima, nem àqueles que te amam. E ele pode até te fazer esquecer de mim, de nós... Mas eu estarei contigo, segurando sua mão. 

Lembra quando eu era pequenininha e o sr. chegava do trabalho, ligava a tv para poder acompanhar o jornal, se sentava em sua poltrona, pegava seus processos e ia estudá-los? E lá vinha eu, toda tagarela, para conversar. Blá, blá, blá... Acho que a prosa era boa, ela sempre me rendia a permissão para pentear seus cabelos, e ir mais além, até prender xuxinhas neles. Ficava horroroso, pai. Definitivamente as xuxinhas eram para meus cabelos não para os teus... Quando penso nesses momentos eu me pergunto o que acontecia com toda a sua seriedade. Talvez detrás dela houvesse um coração enternecido. São tantas lembranças. Tem as ruins também, mas essas vão ficar ofuscadas por todas as boas. O bem é sempre assim, pai, ele sempre se sobressai. 

É tão doloroso saber que o sr. vai me esquecer. Quantas lágrimas só de imaginar isso. É pai, o sr. talvez não tenha lucidez para me ver casar ou conhecer seus netos. Talvez o abraço do esquecimento seja forte demais e o sr. não me veja alcançar meus sonhos. Mas tenha certeza, pai, que o sr. estará presente em todos esses momentos em meu coração e enquanto eu puder estarei contigo. Se o alzheimer te dá um abraço de esquecimento, eu te dou meu abraço de amor.

Raquel







quinta-feira, abril 24, 2014

Quando precisamos nos reconstruir

Já perceberam que em nossas vidas existem coisas que podem ser reformadas e existem outras que só podem ser reconstruídas? Já notaram como muitas vezes tentamos ao máximo dar um jeitinho e queremos reformar aquilo que deve ser reconstruído? 

Isso ocorre em nosso mundo interior também. Muitas vezes tocamos vários anos de nossas vidas com pequenas reformas, que disfarçam e até impedem momentaneamente a estrutura ruir, mas infelizmente chega um momento em que elas não dão mais conta de sustentar tudo que desaba. E aí só nos resta enfrentar ou enfrentar, reconstruir. E vou confessar para vocês, ver tudo em ruínas é um momento terrivelmente assustador... 

Passei 32 anos da minha vida sendo cobrada demais, desmerecida demais, desacreditada demais, julgada demais, abandonada demais, anulada demais. Meninas, como não ser gorda assim? E eu nem percebi. Achava que a origem da dor era a obesidade, quanto engano. A obesidade era consequência. E quando ela se foi, aquela dor ainda estava lá. Ainda está aqui. 

É um peso grande demais de desamor próprio e eu nem posso dizer a vocês o quanto isso dói. Eu acreditei em tudo de ruim que disseram... Mas não quero mais levar isso comigo. Se me desfiz de 52 quilos também posso me desfazer dessa dores. Quero deixar tudo isso lá atrás, curar essas feridas. Quero aprender a me olhar de uma maneira bem diferente, com mais amor, mais carinho e acolhimento. Espero poder me desfazer de todo esse lixo mental, me reconstruir.

Certa vez, li em algum lugar que nós adoecemos (depressão, ataque de pânico, ansiedade, etc) não porque somos fracos, mas porque passamos tempo demais tentando ser fortes. Nós somatizamos essas dores que insistimos em esconder, em fingir que elas não estão ali. Estou passando por isso agora, e é  por isso que decidi escrever esse post, é mais um desabafo, desculpem.

 Estou em tratamento, no início. Imagino que ele será longo. Mas não estou com pressa, não tenho compromisso com ela, só tenho um compromisso gigante com minha paz.

Raquel